Olá, agora iremos falar sobre a teoria didática e o ensino da matemática, pois não adianta somente aplicar a teoria sem levar em conta as fases da aprendizagem das crianças, que é diferente de uma para outra, mesmo estando todas na mesma turma.
Mesmo sabendo disso tudo, precisamos compreender algumas coisas que devem ser levadas em conta quando trabalhamos a matemática com nossos alunos:
- O saber e saber fazer são duas competências indissociáveis na aprendizagem de Matemática, pois ao estudar se aprende as noções em diferentes momentos e de diferentes formas- exemplo: as ideias de adição vão ampliando-se de acordo com os usos e vão adquirindo características pessoais.
- O campo conceitual das estruturas aditivas se constitui em distintas classes e depende da análise de aquisições dos alunos.
- O Sistema de Numeração Decimal – numeração indo-arábico - é aditivo. Para resolver a soma, a criança necessariamente deve apropriar-se da noção de inclusão, agora para resolver a subtração, a criança não precisa ter noção de inclusão, porém precisa entender a relação de tirar, comparar, ter mais que, e fazer composição de transformações, por exemplo: se perdi tenho, e se torno a perder, etc.
- A criança de 4-5 anos faz operações usando a ideia de somar e tirar, baseando-se no real, no concreto.
- A criança de 6 anos já consegue fazer comparação como, por exemplo, quanto tinha e quanto fiquei.
- A criança de 8 anos faz a composição de transformação, por exemplo: para saber quanto perdi preciso somar as perdas.
- A criança amplia seus procedimentos de resolução quando verifica sua eficiência nos cálculos, nos agrupamentos de números da mesma ordem, ou seja, a classificação de significações das operações dependem das oportunidades de operar com números em diferentes situações de uso real.
- Os procedimentos de resolução de desafios são próprios dos alunos.
As investigações no ensino da
Matemática tem permitido uma nova aproximação sobre a aprendizagem do Sistema
de Numeração. Levam a criação de condições para a compreensão operatória do
nosso sistema de designação dos números, sem tornar uma tábua rasa que enfatize
o ensino do mais fácil para o mais difícil. Se trata ao contrario, de levar em
conta o que os alunos já conhecem, buscando a dar sentido a esses conhecimentos
e através de desafios, os mesmos possam ampliar-se.
Exemplo: Até que número você sabe contar?
Ao
fazer esta pergunta os alunos percebem prontamente que seus conhecimentos
produzem satisfação aos adultos e orgulhosos respondem até cem, ou até mil, ou
criança de 4-5 anos começam a contar uma serie de nomes específicos, porém com
certa ordem que pensamos serem números. Alguns sabem que entre cem e mil
existem muitos números e enfatiza que existem números entre onze e quinze, apesar
destes conhecimentos muitas vezes serem somente nomes aprendidos de memória,
isto representa um conhecimento muito útil, estes nomes aprendidos por prazer,
e podem representar uma satisfação no momento da ampliação dos significados.
Agora, como podemos trabalhar a matemática com as crianças nas séries iniciais?
Trabalho Com Números Naturais
As crianças, desde cedo, adquirem conhecimento sobre os números como, por exemplo, o nome dos números, os seus signos e o que eles representam.
Sistema de Numeração
Decimal: organização dos números em uma serie que obedece a regra
ligadas ao agrupamento de dez em dez, isto é, aprendido após o contato intencional com trabalho envolvendo
números, ocorre
então a extensão do campo numérico.
A
questão que deve intrigar os alunos é: como designar números elevados com
menor quantidade de símbolos?
Os alunos, assim como toda
humanidade, passou por esta angustia. Quando pedimos a criança
que registre cento e setenta e oito e ela o faz (100708), isso indica que existe
um nó na aprendizagem, porém a criança sabe muito sobre os números e
demonstra que a criança estabelece o principio aditivo para o sistema de
numeração e que concebe que a forma oral representa a escrita, o único desafio
é deixá-la em conflito com algo que já concebe como verdadeiro, exemplo o
número da linha do ônibus, o registro do numero do seu sapato, o registro da
altura da porta, etc.
A CONSTRUÇÃO LÓGICA DOS NÚMEROS: Piaget - os números aparecem das estruturas classificatórias e das
suas relações. Atualmente, a
partir do conhecimento prévio do aluno, o professor deverá ir ampliando o grau
de dificuldade e os desafios, por exemplo: por meio da musicalidade dos números
(25-26-27-28-29-30-...35-36-37-38-39-...) o professor pode informar essa
regularidade e aproveitar para trabalhar os números escritos.
FASES DE APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS
As fases de aprendizagem das crianças com os números são:
FASE 1: Uma aproximação global e principalmente oral
dos nomes dos números;
FASE 2: Uma tomada de consciência das regularidades
de uma serie numérica e uma apropriação das regras de escrita;
FASE 3: A compreensão das ideias de agrupamento e troca.
Vale ressaltar que estas três fases são flexíveis e dependem do
campo numérico e das atividades propostas e requerem muitas aprendizagens e que no final do 1º
ciclo os alunos ainda estão em processo de compreensão da ultima fase.
Vamos detalhar cada uma delas:
1ª FASE- Aproximação
global e recitação oral
O primeiro contato com os
números ocorre no ambiente familiar e ao longo da escola e a partir deste
contato os alunos percebem sua globalidade.
1.1
– Números isolados
Se designa quantidades,
com palavras e outras vezes estas se
relacionam entre elas; exemplo: traga quatro lápis; vá buscar três
crianças.... ou você trouxe um novo jogo de quebra-cabeça..
Dentro da classe vive-se numerosas ocasiões para utilizar essas
palavras que vão tomando progressivamente significado, porque essas palavras
são empregadas em distintos contextos: na idade, no peso, na chamada, na
preparação da merenda, na distribuição de material.
1.2
– números ordenados
São numerosas as situações
em que se reforça a significação e a memorização dessas palavras em uma serie
ordenada. Este inicio de organização dos nomes dos números não deve ser confundido com o trabalho de comparação de quantidades, neste momento não é
para haver questionamento "se treze está depois de dez , então é maior que...",
porém diante uma coleção de objetos o aluno pode dar-se conta que "uma coleção
com treze objetos é maior que a coleção de dez objetos".
Podemos afirmar que a
listagem dos números será um facilitador da memorização, mas isso por si só garante outras aquisições
sobre os números- a listagem facilita o aprendizado da sequência numérica.
- Recitar uma parte da sucessão convencional a partir de 1. A criança para quando não conhece o número seguinte ou conclui com outra parte já recitada, Por exemplo: "a partir do 29, vinte dez, vinte onze , etc..", então o professor deve procurar apresentar o correto diversas vezes ou quantas vezes forem necessárias.
- Recitar a partir do numero 1 e parar no número combinado com a condição, por exemplo de que este número pertença a parte conhecida da serie. Para este momento é necessário recordar o número que a criança deve contar e ir dificultando a tarefa aos poucos.
- Recitar intercalando nomes, por exemplo: "uma vaca, duas vacas, três vacas...", e ir continuando a recitação para que os alunos percebam as palavras que se repetem e que percebam que os nomes não aparecem de forma contínua e sim como um todo. A recitação dos nomes obriga o aluno a diferenciar o nome de cada número. Isto pode ser desenvolvido por meio de canções.
- Recitar a partir de um número diferente de 1. Neste momento é necessário também uma maior segurança do conhecimento da sucessão numérica, sequência, e uma certa individualização das palavras. É um grande passo a ser dado para aproximar o aluno ao conceito de número.
- “Descontar” de um em um, ou seja, contar para atrás.
- Contar de dois em dois, descontar de dois em dois, contar de dez em dez, etc.. e cada vez com as mesmas competências mencionadas para contar de um em um.
1.3
– A sucessão escrita
O sucessão escrita é
aprendida pelo contado com uma fita, com um cartaz, uma tabela com o registro
dos algarismos para toda classe e para cada aluno. Este instrumento servirá
como um dicionário para pesquisar os números. Quando um aluno não sabe qual é o
doze irá contar na fita/cartaz as casas que vão de 1 a 12 e poderá assim, graças a
sucessão conhecida de memória, conhecer o número, o mesmo para saber que
algarismos formar o quatorze. Descobrirá que para cada nome de um número existe
uma representação num portador.
Esta organização dos
números, também servirá para a memorização.
- Ao ler o numero treze, o aluno irá ler o numero globalmente, porém ao verificar esse número na tabela irá notar que vem depois do doze e antes do quatorze. Essa revelação se for percebida pode ser incentivada pelo professor, pois isso favorecerá ao aluno a percepção da organização baseada na idéia de agrupamento de dez em dez. É importante insistir que 3 está antes do 4 e depois do 2.
- O registro escrito e a eleição de um suporte para consulta vão permitir ao aluno uma imagem mental que será útil para associar a representação concreta e o resultado efetivo com o registro a ser efetuado.
- Após a percepção da linearidade, a imagem mental, ou seja, a visualização da ordem numérica.
Pode-se
sugerir a ampliação desta aprendizagem propondo a visualização das distancias
entre os números e a percepção dos números como sendo infinitos. Começar a
imaginar que a série de números se prolonga até quando se quer.
1.4
– A escrita com algarismos
Algumas crianças que são
capazes de ler os números sobre a tabela, não conseguem lê-los quando estão
isolados, pois tem memorizado a seqüência ordenada, porém as escritas são as
mesmas, é necessário então organizar um trabalho específico para que estes
alunos, além de memorizar as escritas, utilizem-nas frequentemente até
conseguirem registrá-las sem ter que recorrer sistematicamente a tabela.
Não podemos duvidar que
este recurso didático, como os outros são muito úteis em certos momentos do
processo de aprendizagem porém devem ser dispensados após um tempo de consulta.
A mesma situação acontece
com os dedos, que estão na base do nosso sistema de numeração e tem o mérito de
estarem sempre disponíveis, porém este deve ser um recurso transitório, que
pode ser usado, porém não para toda vida.
Nesta
fase os alunos conhecem os nomes de alguns números e associam um valor a eles, fazendo
relação oral e, às vezes, escrita, por exemplo, que tem dois algarismos, mas
não sabe associar a quantidades.
A
escola deve favorecer a recitação oral para buscar despertar a curiosidade do
registro escrito.
No
jogo, ao registrar 3 pontos ganhos (pauzinhos, ou 123, ou 3), o professor deve
propor a discussão sobre as formas de registros e insistir para que os alunos
avancem sobre os conceitos numéricos.
2ª FASE- Aspecto algorítmico da escrita
Nesta segunda fase se
trata de alcançar uma tomada de consciência da organização da sucessão numérica
escrita, por meio de situações que favoreçam a apropriação da idéia de número
com leitura e escrita, com exploração, discussão e análise das escritas.
Esta organização favorece
que os alunos não se contentem com o vinte e nove, vinte e dez, vinte e
onze..., e, a partir desse momento, percebem que suas dificuldades estão nos
nomes de certos números (trinta, quarenta, cinquenta ...) e terão que, a partir
do que sabem, retomar a série e conhecer essa terminologia, a qual tem a ver
com três, quatro, cinco.
Vale ressaltar que nossa
numeração oral apresenta várias irregularidades e dificulta a tomada de
consciência das regras de formação dos números, é necessário então contar uma
série de números suficientemente grande, que supere a zona de irregularidades
de onze a quinze, e desta série pode por em evidência os diferentes algoritmos
de construção dos números.
As tabelas numéricas
individuais podem favorecer o descobrimento das regularidades das escritas, que
nem sempre aparecem a nível dos nomes, dos algarismos, e sim dos números.
Tanto as tabelas como as
fitas numéricas, como outros dispositivos, podem servir tanto de recurso de
memorização como de ajuda para a construção de imagens mentais e como suportes
para numerosas atividades.
Ao final desta fase os alunos
são capazes de:
- Escrever e até ler séries de números a partir de qualquer número;
- Podem dizer todos os números entre 30 e 40;
- Podem dizer e escrever todos os números escritos com três algarismos formados, por exemplo, por 2, 7 e 8;
- Podem ler quanto vale o número 3 em determinados números e o seu valor posicional (123 – 234 – 387).
Esta fase começa na
educação infantil, porém adquire toda sua importância no ensino fundamental e
só encontra sua plena justificação com o uso de números suficientemente
grandes, e assim haverá ampliação das descobertas das regularidades.
Importante - Não é necessário forçar este tipo de observação
sobre os números, porém, sempre que forem utilizadas situações, é preciso
despertar a curiosidade natural dos alunos e seu espírito de observação.
Ao contar os elementos de uma coleção e saber
o nome do número, (último numero corresponde ao cardinal que representa a
coleção) alguns alunos associam o nome do número ao elemento e não entendem a
relação de INCLUSÃO.
A cardinalização se dá aos 5 anos e em
seguida os alunos devem aprender que há uma correspondência entre o nome dos
números e a representação do conjunto.
Aos 5 anos - aluno faz correspondência da
palavra ao numero
Entre os 6-7 anos – aluno entende a
correspondência biunívoca, sabe serie oral de memória e usa deste instrumento
para contar. Somente quando usa a relação de inclusão que inicia o processo de
construção do conceito de número.
3ª FASE- Agrupamento de dez em dez
Esta fase tem por
objetivo, por em evidência os agrupamentos de dez em dez e seus recursos que
garantem as regularidades. É preciso insistir na significação da posição de
cada algarismo e a escrita do numero. É preciso dizer que a posição do
algarismo está ligado a ideia de agrupamento de dez e enfatizar a questão das
possíveis trocas.
Para compreender que o 3
do 31 não tem o mesmo valor do 3 do 23 é necessário compreender que quando se
agrupam dez elementos conta-se um, e esse um segue valendo dez, valor do número
na posição que ocupa.
O aluno do 2º ano poderá
“ver” em 254, por exemplo, que pode ter duzentas e cinquenta e quatro unidades
ou vinte e cinco dezenas e quatro unidades, mas não com exercícios formais e
sim com situações que sintam necessidade de verificar esse agrupamentos, como
se for proposto que formem pacotes de 10 balas e oferecer-lhe um caixa com 254
balas.
As atividades, como a de
colecionar partes regulares de dez elementos, devem ser estimuladas desde a
educação infantil e cada vez que isso for proposto o professor poderá fazer o
registro da quantidade total obtida.
Outra atividade é de pedir
para o aluno “o que eu compro com uma nota de dez reais e com dez notas de um
real.”
O trabalho envolvendo unidade e dezena se dá
ao final dos 6 anos e com este aspecto trabalhado pode ser iniciado o trabalho
voltado a descoberta das regularidades por meio da leitura e da escrita.
CONCLUINDO...
As aprendizagens acima
mencionadas não são alcançadas rapidamente. O ensino não é linear nem muito rápido,
a numeração se constrói trabalhosamente e sua plena aprendizagem se dá quando o
aluno incorpora o recurso do CALCULO
MENTAL e conseguem verificar as regularidades e eleger o melhor recurso
para realizar a contagem e os cálculos.
Em particular, na educação
infantil, não se trata de “ensinar numeração”, nesta fase é possível que os
alunos nomeiem, leiam e escrevam os números mais habituais. O contato com
números devem ser ampliados gradativamente, porém sem menosprezar a
aprendizagem dos alunos, pois os mesmos avançam segundo as oportunidades
oferecidas, e estas são de responsabilidade do professor.
Por enquanto é só!!! Aguardem as próximas postagens.
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